quarta-feira, 5 de julho de 2017

Avaliação externa do Agrupamento de Escolas de Paço de Arcos – Grupo de Paleontologia

Foi publicado o relatório de avaliação externa do Agrupamento de Escolas de Paço de Arcos 2016-2017, onde funciona na Escola Básica  o nosso Grupo de Paleontologia.  Relativamente ao Grupo de Paleontologia pode ler-se no domínio da Prestação do serviço Educativo:

É de salientar o funcionamento continuado do Clube de Paleontologia, que desenvolve um conjunto alargado de atividades cientifico-pedagógicas e contribui para a produção de conhecimento e não meramente para a sua reprodução, tendo já sido premiado e publicado artigos de índole científica.” (página 7)


Relativamente ao desempenho do Agrupamento, a avaliação externa realça os seguintes pontos fortes:

“…Implementação de atividades práticas, de caráter laboratorial e oficinal, e saídas de campo, que fomentam uma atitude positiva face ao estudo do meio, às disciplinas de ciências e de índole profissional, com destaque para o Clube de Paleontologia, que desenvolve múltiplas iniciativas científico-pedagógicas…” (página 12)

O Grupo de Paleontologia foi consultado para fornecer dados sobre aspetos geológicos / paleontológicos no passeio marítimo de Oeiras

O Grupo de Paleontologia foi consultado para  fornecer dados sobre aspetos geológicos / paleontológicos importantes encontrados na frente estuarina entre o Forte de S. Julião da Barra e a praia de Caxias no âmbito do proposta de Plano de Urbanização da Subunidade Operativa de Planeamento e Gestão Litoral Poente do Concelho de Oeiras (PU). No relatório de caraterização e diagnóstico do PU (Câmara Municipal de Oeiras, 2017) foram assinalados as ocorrências seguintes:

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Não existem no concelho de Oeiras ocorrências que tenham justificado a identificação de monumentos geológicos ou geossítios, mas à escala local e em resultado da análise desenvolvida nos capítulos anteriores (história geológica, geomorfologia e riscos), considera-se que os seguintes elementos marcantes deverão ser salvaguardados e promovidos (na sua vertente científica, pedagógica e/ou cultural) pela intervenção no quadro do PU:

1. Afloramento de basalto, praticamente em frente ao marégrafo (outro ponto de interesse pedagógico e cultural). Exemplifica alguns dos fenómenos de intenso vulcanismo do final da Era Mesozóica (cerca de 70 milhões de anos) que surgem no chamado "complexo Lisboa - Mafra". A presença de alguns pequenos cristas esverdeados de olivina sugere uma ascensão do magma em dois tempos, indicando um vulcanismo do tipo efusivo que terá ocorrido num ambiente sub-aéreo.

2. A observação de solos de cor avermelhada, em ambos os lados do afloramento anterior. Esta cor não é vulgar, mas resulta da desagregação demorada do ferro existente no basalto e que subiu do interior da terra até à superfície.

3. Quase em frente, e portanto do lado da água e só visível em marés muito baixas, temos um outroafloramento de basalto, de tipo distinto, indicando atividade vulcânica mais do tipo explosivo.

4. Afloramento de calcário esbranquiçado, muito resistente, logo a seguir ao forte de S. João das Maias (quase em frente a um repuxo de água), repleto de fósseis - neste caso são icnofósseis, produzidos provavelmente pela atividade escavadora de crustáceos decápodes, do tipo caranguejos. Estes cavavam tocas em lamas carbonatadas num mar quente de pequena profundidade, que mais tarde fossilizaram e são conhecidas pelo nome científico de Thalassinoides. Estas tubulações e galerias apresentam comprimento e espessura muito distintos, mas quase sempre em forma de T e de Y, quase sempre com disposição horizontal (mas com alguns casos em que é oblíqua ou quase vertical), sempre com paredes lisas.

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5. Na curva logo a seguir à foz da ribeira da Lage (no sentido Paço de Arcos - Oeiras), observam-se 2 estruturas lineares paralelas, dispostas ao longo de quase 40 metros, “impressas” em calcários micríticos do Cenomaniano (início do final do Cretácico, cerca de 90 milhões de anos). Colocando de lado uma origem animal ou vegetal, a hipótese mais provável indica que terão sido produzidos pela atividade do homem, e que seriam os dois lados do assentamento de carris, já que por ali se localizava uma pedreira de exploração de calcário. Várias perfurações na rocha, ovais e com disposição muito regular, sugerem que ali poderia ter assentado algum tipo de plataforma de embarque dos blocos retirados da pedreira.

6. Eventuais pegadas de dinossáurios - frente ao restaurante do INATEL surgem algumas depressões que são muito semelhantes a pegadas tridáctilas atribuídas geralmente a bípedes carnívoros. As dimensões, morfologia e outras caraterísticas / critérios sugerem que representam icnofósseis, embora muito mal preservados (57).




Fig. 170 - Representação dos valores geológicos e paleontológicos representativos a preservar conforme a descrição nos parágrafos anteriores (Fonte: Grupo de Paleontologia, EBI Dr Joaquim de Barros, 2016.)

Este levantamento é um contributo do Grupo de Paleontologia da Escola EBI Dr Joaquim de Barros, de Paço de Arcos, coordenado pelo Prof Celestino Coutinho, cujos trabalhos têm sido divulgados e premiados em congressos nacionais de Geocientistas em Ação promovidos pela Ciência Viva.

Este levantamento teve como base vários projetos desenvolvidos pelo Grupo de Paleontologia ao longo de vários anos:








terça-feira, 30 de maio de 2017

Alunos do Grupo de Paleontologia recebem prémio de 2º lugar no XII Congresso Cientistas em Ação – Centro de Ciência Viva de Estremoz

Quatro alunos dos 6º e 7º anos do Grupo de Paleontologia concorreram ao XII Congresso Cientistas em Ação, promovido pelo centro de Ciência Viva de Estremoz: Rodrigo Araujo, Joâo Cazalta, Inês Chelinho e Joâo Roboredo com o trabalho Pegadas de dinossáurios na serra do Bouro: «pegadas estranhas»! Enviaram o resumo, construíram um poster e fizeram a sua apresentação perante um júri e um público interessados.





Eis o resumo enviado: Pegadas de dinossáurios da serra do Bouro: pegadas estranhas Rodrigo Araújo João Cazalta, Inês Chélinho, João Reboredo1 & Celestino Coutinho2 Agrupamento de Escolas de Paço de Arcos – Grupo de Paleontologia (GP) O registo fóssil é importante para conhecermos a vida no passado., especialmente o registo osteológico que fornece dados sobre os animais – taxonomia, dimensões, tipo; mas o registo icnológico, sobretudo o das pegadas e pistas, complementa-o, revelando dados que o registo esquelético não fornece. É o caso de vários tipos de comportamentos, capacidade locomotora e dinâmica da progressão, postura, estilo de vida e hábitos de vida. Acresce que para uma dada formação geológica a preservação dos dois tipos de fósseis é quase antagónica, implicando que a preservação de pegadas e de esqueletos raramente coexistam. Em Portugal, o registo fóssil de pegadas de dinossáurios mesozóicos é significativo. É tão importante que por vezes suplanta o registo esquelético, especialmente o dos autopodes, membros e cinturas. O que implica que temos maior número de morfologias distintas de pegadas e de configurações de pistas do que esqueletos, de onde deriva o célebre «síndrome da Cinderela» - tentar encaixar os (escassos) esqueletos com a grande variedade de pegadas/pistas reconhecida. Entre os dinossáurios que mais nos espantam estão os colossais saurópodes, os maiores herbívoros que alguma vez pisaram terra, e, especialmente depois do filme “Jurassic Park”, os terópodes raptores, do grupo dos deinonicossáurios, como o célebre Velociraptor. As capacidades terrestres dos saurópodes estão evidenciados pela morfologia dos membros e ossos axiais, mas são muito mais espantosas quando analisamos o seu registo icnológico, De fato, para além de fornecerem evidencias sobre as capacidades de progressão em terra firme, pegadas e pistas fornecem dados temporais, espaciais e indicam caraterísticas que permitem estabelecer hipóteses sobre a evolução da locomoção. Mas também são ferramenta essencial para tentarmos reconhecer os principais subgrupos produtores de um registo icnológico que surge como cada vez mais diferenciado: largura interna das pistas, heteropodia, morfologias distintas tanto de pés como de mãos, localização relativa das pegadas das mãos, morfologia, dimensões relativas e orientação dos unguais e dígitos, …Para além dos morfotipos conhecidos (e previstos), podem-se distinguir outros icnomorfotipos de origem saurópode que não correspondem à anatomia autopodial de nenhum taxon conhecido através do registo esquelético. Assim, tentamos analisar os vários morfotipos de pegadas e pistas reconhecidos, em todas as suas possíveis combinações, tentando correlacionar cada um deles com o subgrupo que representa o mais provável candidato autor, utilizando sinapomorfias (caraterísticas exclusivas) e distribuições temporais e espaciais. Por outro lado, a questão “os saurópodes, os maiores herbívoros terrestres da história da Terra, formavam grupos monoespecíficos ou estes grupos incluíam diferentes espécies?“ (como acontece atualmente com os grandes ungulados das savanas africanas) há muito que está em debate e o registo osteológico é relativamente escasso para fornecer evidências inequívocas. Estes herbívoros eram presas de dinossáurios predadores – os terópodes, mas o reconhecimento de pistas destes bípedes sincrónicos com as dos saurópodes não é muito abundante no nosso País. A descoberta de uma nova jazida do final do Jurássico na serra do Bouro e a sua análise poderá permitir responder a algumas estas questões. Neste trabalho pretendemos identificar e reconhecer um «novo» tipo de pista de saurópode, cuja atribuição a um determinado grupo taxonómico de saurópodes é difícil. Por outro lado, pode confirmar, pela segunda vez a nível mundial, a coexistência e passagem em simultâneo de dois tipos distintos de saurópodes. E permite reconhecer um segmento de pista de terópode que, apesar da má qualidade da preservação, poderá representar a evidência mais antiga da passagem de um deinonicossáurio (o grupo que inclui os famosos «velociraptores») a nível mundial. A jazida, a que chamamos de Bouro 1, foi descoberta em 1995 por um professor de Geografia das Caldas da Rainha, num local conhecido por “Pedras Negras”. Em muitas saídas sucessivas posteriores, colegas do GP limparam e removeram terras, arbustos e entulho, colocando à vista mais exemplares em diversos afloramentos deste nível calcário do final do Jurássico (Kimmeridgiano). Continuámos a limpar e a remover terras de cobertura, mapeámos para manga plástica e acetato pegadas e pistas, fotografámos as amostras, analisámos este registo. Abordámos os diferentes tipos de pegadas e pistas de saurópodes reconhecidos e as inferências relativamente à sua origem a nível taxonómico mais elevado. Analisámos e comparámos este registo fóssil com o reconhecido a nível mundial. Tentamos inferir qual o grupo de saurópodes que poderia ter sido responsável pelo novo “tipo” de pegadas/pista. Analisámos o registo icnológico atribuído a deinonicossáurios a nível mundial e comparámos esta ampla amostra (mas só descoberta e identificada recentemente) com o pequeno segmento de pista identificado num dos afloramentos do Bouro I.

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Alunos do Grupo de Paleontologia recebem prémio do melhor trabalho no XII dos Jovens Geocientistas

Decorreu em 10 e 11 de Março na Universidade de Coimbra o XII Congresso dos Jovens Geocientistas, sobre o tema Geoturismo. Três colegas do Grupo de Paleontologia concorreram com o projeto “Algarve, destino turístico privilegiado… até para os dinossáurios”.

O Manuel Cabrita (6º ano) e a Sofia Cruz e o Tomás Alvim (12º ano), depois de terem enviado o resumo e um poster, realizaram a sua apresentação. Acabaram por receber o prémio do melhor trabalho apresentado ao Congresso.

http://www.uc.pt/fctuc/dct/eventos/XIICJGeo





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Resumo enviado: 
ALGARVE, DESTINO TURÍSTICO PRIVILEGIADO… ATÉ PARA OS DINOSSÁURIOS! 
Tomás Alvim; Manuel Cabrita; Sofia Cruz Agrupamento de Escolas de Paço de Arcos – Grupo de Paleontologia (GP) 6ºA, 12ºA, 12ºC 
Palavras-chave: Cretácico Inferior; Dinossáurios; Geoturismo; Icnojazidas; Praias da Salema e da Santa. 

“Os dinossáurios e os seus parentes podem ser considerados como os embaixadores da ciência para o público em geral e, em especial, para o mais jovem” (Padian, K. 1992). Há muito que os animais do passado exercem um grande fascínio na população, interesse que pode ser direcionado para atrair os mais jovens para a ciência. Este poder de atração, exercido especialmente pelos dinossáurios, tem sido canalizado para visitas a museus, exposições e palestras. A partir da descoberta de vastas jazidas com pegadas, o interesse voltou-se para a visita a estes icnótopos, onde podemos observar, contactar,- deslocarmo-nos lado a lado com as pistas dessas míticas criaturas, obtendo umas visão desses animais enquanto seres vivos. Estão neste caso as jazidas icnológicas do Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém/Torres Novas e o Parque Icnológico de Penha Garcia. Mas, o que dizer quando podemos juntar no mesmo local a praia, o sol, um clima fantástico, uma água do mar excelente, paisagens espetaculares e as pegadas de dinossáurios? O Algarve é um destino de férias de parte da população portuguesa e de significativo número de estrangeiros. Modificando a oferta turística, mostrando que algumas praias têm muito mais para oferecer – o património geológico e paleontológico – podemos incrementar o geoturismo, que até pode representar para as populações uma fonte económica suplementar. Nestas condições estão as icnojazidas das praias da Salema e da Praia Santa, localizadas no Barlavento Algarvio, na freguesia de Budens (Lagos). Com este trabalho pretendemos mostrar que estas jazidas apresentam um interesse considerável do ponto de vista científico e que visitadas no seu contexto geológico original, podem ser ferramentas importantes para a popularização da ciência e para estimularem no público o interesse pela preservação do património paleontológico. Portugal é um país rico em faunas mesozóicas, mas todos os vestígios de dinossáurios eram encontrados nas sucessões rochosas sedimentares da orla Ocidental Meso-Cenozóica. Será que os dinossáurios não gostavam das praias do Algarve? Depois de Terrinha, em 1992, e de Coke, em 1995, terem descoberto ossos e pegadas tridátilas, respetivamente na praia de Porto de Mós (Lagos) e na praia da Salema, atribuíveis a dinossáurios terópodes, as dúvidas desapareceram – pelo menos durante os tempos iniciais do Cretácico inferior a região era povoada por dinossáurios carnívoros (Santos et al. 2000). Mas faltavam as evidências dos herbívoros, o “menu” destes predadores? Em 1996, colegas do GP foram sucessivamente descobrindo novo material icnológico na praia da Salema, que incluiu as primeiras pegadas atribuíveis a crocodilianos, e a primeira pista com afinidade iguanodontiana deixada por um ornitópode herbívoro de dimensões razoáveis, descoberta em Portugal. E continuaram as descobertas: dois outros níveis, na zona oriental da praia Santa - praia contígua à praia da Salema - com pegadas de origem ornitópode, com exceção de uma pegada atribuível a um grande terópode; para ocidente da praia Santa, e nos mesmos dois estratos, pegadas de ornitópodes com morfologia distinta e de terópodes, e onde identificaram as primeiras pegadas dos saurópodes cretácicos algarvios. Em Janeiro de 2017, descobrimos pegadas, com provável origem iguanodontiana e sauropodiana. O grau de preservação destas amostras é variável, do excelente ao sofrível, sempre como epirrelevos côncavos. Revelam autores progredindo a velocidades distintas, e uma pista, com pegadas de 80 cm de comprimento, pode representar um herbívoro do grupo dos hadrossaurídeos. Concluímos que estes ambientes sedimentares confinados (lagunares ou na vizinhança da zona intertidal) (Santos et al. 2013) eram frequentados por faunas muito diversificadas de vertebrados, sob climas quentes e secos, quase sincrónicas, permitindo obter censos de predadores / presas, que vamos atualizando. A partir deles obtemos censos de biomassa, úteis para inferirmos dados sobre os estilos de vida dos vertebrados cretácicos, incluindo o seu estatuto metabólico. Estão reunidas as condições para que o geoturismo nestas praias seja uma realidade, o que foi comprovado quando os colegas do GP promoveram atividades de divulgação no âmbito do Programa Geologia no Verão, sempre com enorme adesão. 
Referências: Padian, K. (1992). The dinosaur as a teaching vehicle. Journal of College Science Teaching, 21(3): 179-183. Santos, V.F., Dantas, P., Moratalla, J.J., Terrinha, P., Coke, C., Agostinho, M. & Galopim de Carvalho, A.M., (2000). Primeiros vestígios de dinossáurios na Orla Mesozóica Algarvia. In Diez, J.B., Balbino, A.C. (Eds), Libro de Resúmenes del I Congreso Ibérico de Paleontologia / XVI Jornadas de la Sociedad Espanola de Paleontologia, Évora, Portugal, 12- 14 de outubro de 2000, - pp22-23. Santos, V.F., Callapez, M.P. & Rodrigues, N.P.C. (2013). Dinosaur footprints from the Lower Cretaceous of the Algarve Basin (Portugal): New data on the ornithopod palaecology and paleobiogeography of the Iberian Peninsula. Cretaceous Research, 40,-;158–169